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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os esquecimentos de Medina Carreira

Num media infestado de áulicos como a TV portuguesa, as aparições ali do Dr. Medina Carreira são sempre um motivo de satisfação. É das raras pessoas que se atreve a dizer verdades acerca da situação económica do país. A sua intenção de "ir aos problemas de fundo" é louvável. No entanto, o Dr. Medina Carreira nem sempre consegue chegar ao fundo, talvez devido a limitações ideológicas ou de classe.
Os problemas dos défices estruturais que aponta (balança de pagamentos, endividamento externo e interno) são realmente cruciais. Mas quando ele diz que, por isso, os portugueses terão de apertar o cinto nunca diz quais as classes sociais que terão de fazer mais furos nesse cinto. Quando fala de défices externos e diz que teremos de cortar nas importações de comida esquece-se absurdamente de falar da muito mais importante política de transportes e da necessária redução das importações de petróleo: factura de 8 mil milhões de euros em 2008 (há 570 veículos para cada 1000 habitantes, uma das mais altas capitações da Europa). Quando fala das despesas excessivas do Estado, esquece-se de dizer que se simplesmente esse mesmo Estado adoptasse software livre pouparia os milhões de euros que agora paga aos monopolistas da Microsoft. Quando fala das causas das nossas mazelas esquece-se apontar as privatizações selvagens e a destruição do Sector Empresarial do Estado (SEE) que, se hoje existisse, poderia dar uma contribuição para a solução da crise (compreende-se, pois foi co-participante disso enquanto ministro de um governo PS). Quando fala do descalabro na situação da justiça e da educação esquece-se de apontar as responsabilidades históricas da política de recuperação capitalista e monopolista que destruiu as conquistas da Revolução de Abril. Quando fala da magra fatia que hoje a nossa indústria tem no PIB esquece-se de dizer que a desindustrialização do país foi uma consequência de políticas impostas por Bruxelas e aceites com entusiasmo pela classe dominante arrivista, constituída por uma burguesia compradora hoje dominada por empreiteiros. Quando fala do peso hoje diminuto da nossa agricultura esquece-se de dizer que isso foi uma consequência directa da entrada na UE (foi a UE que entrou em Portugal e não o inverso), assim como da destruição da Reforma Agrária. Quando fala de rupturas que vem aí, esquece-se de dizer que há rupturas que podem ser autoritárias ao serviço da classe dominante e outras que podem ser progressistas ao serviço da maioria do povo português.

Quais as que ele deseja e quais as que ele teme?

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