Lisboa Dakar

Em vésperas da edição 2007/2008 do Lisboa-Dakar aqui fica uma opinião vivida in loco que... dá que pensar...

"Penso na minha situação. Aqui vou de dakar a Lisboa, a conduzir um Mercedes pelo deserto fora, eu que nunca toquei o volante de um Mercedes, agora possuo um, homologado para o itinerário de ráli mais famoso do mundo. Participo no Lisboa-Dakar. Mas, ao contrário dos outros participantes, a minha prestação dilui-se no quotidiano antigo da Mauritânia sem qualquer ofensa à sensibilidade local. O ráli real, o que passa em sentido contrário, invade um espaço de pureza e luz cristalina com os valores mais sombrios e degradados que a nossa civilização soube criar: o desperdício insensato de energias não renováveis; a competição como fonte de estímulo e estima pessoal; o luxo ostentado em territórios de miséria e pudor; o complexo de superioridade civilizacional; a arrogância sorridente e a falta derespeito por outras culturas, outros modos de vida."
Esta passagem pode ser lida no livro "África Acima" de Gonçalo Cadilhe quando este se encontra no Norte de África,"de regresso" a casa, ou seja, no final da sua longa e fascinante viagem por África... acima.