Estuda, sem pensar. O capital precisa de ti!

sábado, 13 de março de 2010

Genial

Quando é que vamos poder dizer que José Sócrates é um autêntico Pavarotti?

Quando este estiver descansado da vida e puder dizer: "O Sol é mío!".

em : http://tempo-de-secura.blogspot.com/

domingo, 7 de março de 2010

Parte 1/4

Parte 2/4

Parte 3/4

Parte 4/4

terça-feira, 2 de março de 2010

Este Mundo da Injustiça Globalizada by José Saramago

Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a expoliação continuou. Então,
desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinónimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.
Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia. Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações. Tenho dito que para essa justiça
dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença. E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização económica em curso. Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização económica.
E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingénuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal
elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com a objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes...
Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.
18/03/2002

domingo, 28 de fevereiro de 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

"Charles Darwin" - Do the evolution

Pearl Jam - Do the evolution

Raimundo Quintal: "Alertei para o que podia acontecer e chamaram-me inimigo da Madeira"




"O conhecido geógrafo e investigador madeirense Raimundo Quintal, presidente da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e ex-vereador do Ambiente da câmara da cidade, afirma em entrevista ao Expresso que alertou várias vezes as autoridades, nos últimos anos, para o desastre que poderia ocorrer na ilha, mas chamaram-lhe "fundamentalista, radical e inimigo da Madeira".


O que correu mal no ordenamento do território para acontecer a catástrofe na Madeira?

Em primeiro lugar é preciso dizer que, por muito bem ordenado que estivesse o território, com a gravidade do que ocorreu na manhã de 20 de Fevereiro e somando ao que vem a chover desde Dezembro, haveria sempre consequências, mortos e destruição. Disso não tenho dúvidas.
Mas a meu ver o que correu mal foi o facto de se ter acreditado, desde há muitos anos, que apenas com obras de construção civil se resolvem os problemas dos cursos de água. Não é verdade. Alguns casos poderiam ter-se evitado se dentro dos leitos das ribeiras não existissem britadeiras e materiais.

Pode dar alguns exemplos?

Olhe, no sítio da Meia Légua, na Ribeira Brava, há um estaleiro de uma conhecida empresa de construção civil com máquinas e muitos materiais para apoiar a Via Expresso, e tudo veio por ali abaixo até ao mar.
E numa das ribeiras que atravessa o Funchal, a Ribeira de Santa Luzia, há uma empresa no leito de cheia, a Brimade, com uma pedreira, uma britadeira e uma central de betão, e desde há muitos anos que se arrasta ali, extrai pedra da própria ribeira e deposita aí os materiais. Nos oito anos que estive na Câmara, por várias vezes a autuei, levei a tribunal porque não pagava e num dos julgamentos até solicitei que fossem ao terreno, mas infelizmente a juíza foi lá e arquivou o processo. E já estão a fazer agora uma nova central de betão!

Mas era expectável o que se passou?

Era. Não basta fazer muralhas nas ribeiras. Não tenho dúvida que muitas das muralhas que foram feitas contribuíram para minimizar os efeitos das cheias. Mas ninguém me venha dizer que a cobertura do troço final da Ribeira de S. João, junto ao Centro Comercial do Dolce Vita, no Funchal, não tinha um erro grave.
Eu avisei antes e chamaram-me fundamentalista, radical, inimigo da Madeira. Infelizmente vi acontecer o que eu escrevi várias vezes em artigos e o que disse num programa na RDP Madeira, bem como na televisão a 28 de Outubro de 2007.
Outro exemplo: há dois anos houve uma derrocada na Ribeira dos Corridos que matou dois homens, que estavam no estaleiro de uma empresa. Um mês antes eu tinha chamado a atenção para o problema num telejornal da RTP Madeira (a 28 de Outubro de 2007).
Na noite do acidente fui comentar à televisão o que tinha acontecido mas apontei outros casos, como uma enorme padaria (a maior da Madeira) que estava a ser construída no sítio da Fundôa, no Funchal, na vertente oriental da Ribeira de Santa Luzia, e disse que essa padaria estava numa zona de elevado risco, nunca devia ter sido autorizada, mas ainda estão a tempo de o impedir. Pois agora, com as chuvadas, houve uma enorme derrocada e uma parte da padaria desapareceu.

A sua experiência na Câmara do Funchal permite-lhe perceber melhor a enxurrada que varreu a ilha?
Quando se apontam os problemas antes de acontecer a desgraça dizem que há má vontade, que não se é amigo da Madeira. Mas eu estou muito à vontade, porque estive oito anos como vereador independente do Ambiente na Câmara do Funchal, e fui para lá pouco depois das cheias de 1993 (em Janeiro de 1994).
E sei bem o que foi preciso lutar para termos as ribeiras melhor geridas, e não apenas com obras de construção civil, mas iniciando os trabalhos de reflorestação e abrindo caminho para a própria autoregeneração da vegetação indígena.
Possivelmente, se isso não tivesse acontecido, hoje tínhamos consequências ainda mais graves. Não se pode dizer que isto é culpa de A, B ou C. Mas nem tudo o que se fez foi bem feito por quem tem responsabilidades nesta terra. Cometeram-se erros, também se fizeram coisas bem feitas, mas o que não foi bem feito não deve ser reconstruído.
Não posso admitir que venha dinheiro do Fundo de Solidariedade da União Europeia para voltar a fazer a rotunda em frente ao Centro Comercial Dolce Vita, no Funchal, para apoiar empresários com estaleiros dentro da ribeira.

E então o que propõe?

Proponho que venha dinheiro do Fundo de Solidariedade para recuperar as veredas que vão permitir novamente o turismo de montanha, para recuperar as levadas, para recuperar acessos, para construir casas e haver coragem de dizer que não é possível construir mais em determinados sítios onde existem riscos de escorregamentos, ou que estão em leito de cheia.
A melhor estratégia para o grande trabalho de recuperação da Madeira seria aplicar a mesma metodologia que foi usada para os Açores aquando do sismo de 1 de Janeiro de 1980.
Neste caso, naturalmente, com a devida adaptação porque na altura não estávamos na União Europeia mas a recuperação levada a cabo foi exemplar, apesar de não haver muitos meios financeiros, e com uma enorme competência, com uma equipa multidisciplinar a trabalhar e liberta das colorações político-partidárias.


Como foi possível construir em leito de cheia e em locais de risco de derrocadas sem violar as directivas europeias?

Muitas das obras de canalização das ribeiras foram feitas em pleno Terceiro Quadro Comunitário de Apoio (com o apoio do Feder - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e ao abrigo dos programas de defesa do Ambiente. Algumas dessas obras foram bem feitas, foram importantes para defender localidades, tanto no Funchal como fora do Funchal.
Mas outras não. As obras foram autorizadas e financiadas e passaram no Tribunal de Contas e tudo foi feito de forma legal. Mas possivelmente o conceito de leito de cheia varia consoante os técnicos que dão os pareceres. E sabe bem que os estudos de impacto ambiental são encomendados pelos promotores das obras, é assim em todo o país...


O desastre da Madeira foi um fenómeno extremo relacionado com o aquecimento global?

Estamos integrados numa grande região mediterrânica que é caracterizada por estados do tempo que têm picos de secura intercalados com picos de precipitação no Outono e Inverno. O que aconteceu agora aconteceu em 1803 com muito maior violência. Isto é um fenómeno que ao longo da história da Madeira tem ocorrido.
Os estudos que eu conheço para esta área, incluindo os liderados pelo professor Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (o Projecto CLIMAAT), apontam para que neste século os períodos de secura sejam mais intensos e que estas chuvas violentas venham a acontecer em intervalos mais curtos.
O que aconteceu na Madeira está intimamente ligado às alterações climáticas? Não gosto de especular. O que é verdade é que temos vindo a notar estes problemas e, por um lado, há a Natureza com extrema violência mas, por outro, há a arrogância de alguns pigmeus que sempre afirmaram que dominavam a Natureza.


Acha que as ajudas financeiras da União Europeia e da Administração Central serão bem aplicadas na reconstrução da Madeira?

Julgo que seria importante ter uma forma de intervenção diferente. Há que recuperar algumas estruturas, sobretudo viárias, muitas delas têm que ter o mesmo traçado, mas há situações em que voltar a construir no mesmo sítio é estar a deitar dinheiro pela ribeira a baixo.
A rotunda junto ao Dolce Vita do Funchal não pode jamais ser refeita da maneira como estava. É completamente errado voltar-se a cobrir um troço final da Ribeira de S. João com cerca de 200 metros. Não pode ser!
A União Europeia deveria ter uma participação externa de forma a arbitrar claramente estas situações. Se não, tenho muito receio que a actuação venha a ser profundamente condicionada pelas empresas de construção civil.
As empresas são necessárias neste momento, sem dúvida, e há a meu ver um trabalho extraordinário de colocar novamente a água debaixo das pontes. Há um efeito perverso de relançamento da economia com este desastre, porque o desemprego na construção civil vai baixar, mas é mais do que natural que assim seja.
Muitas das muralhas das ribeiras que foram feitas são importantes para protegerem as pessoas que vivem de um lado e do outro, mas há casos em que só há muralha numa margem e na outra não, é escarpada, e quando a enxurrada passou não encontrou resistência aí e houve desmoronamentos, o que mostra que a construção não foi feita da melhor maneira.


Deveria pensar-se num plano global moderno para o Funchal, adaptado à situação actual, do género do plano do brigadeiro Oudinot aplicado depois do desastre de 1803?

Os tempos hoje são outros. O brigadeiro Oudinot veio para a Madeira, orientou a canalização do troço final das ribeiras, as muralhas ainda aí estão, e na altura previa-se a construção da cidade nova na zona planáltica a leste da baixa do Funchal. Isso só aconteceu muito mais tarde, onde estão os hotéis, o casino, etc., mas não houve essa nova centralidade, como estava previsto. Era uma visão que apontava para uma maior fixação dos habitantes do Funchal fora das zonas de risco. Hoje a realidade é completamente diferente e não há hipótese nenhuma de aplicar essa ideia. "





No fim desta página há alguns comentários que são capazes de causar perplexidade isto é um ponto que achei conveniente referir, há alguns que roçam até o cómico.

Resumindo consegue ver-se que na ilha da Madeira, a par de outros sítios em Portugal, há construção clandestina ou até legal mas no entanto em zonas proíbidas do ponto de vista do risco - quer seja risco de cheia, risco de desabamento de terras, etc. Há ainda também um Governo estabelecido e "de estacas bem presas ao chão" que não liga senão ao turismo, ao dinheiro e ao dinheiro e se isola do continente quando o seu representante barafusta estupidamente. Uma ilha que é uma das maravilhas naturais do mundo, tem o pior presidente possível.

Raimundo Quintal alerta e bem que estas tragédias quando vêm, vêm em força e brutalidade, logo são inevitáveis, o que não significa que não se possa trabalhar na prevenção de modo a minimizar as tragédias.

Pior do que não prevenir (para os que dizem que só se critica e não se apresenta soluções, ainda antes de corrigir o que está mal, há que não estragar o que está bem) é ajudar à tragédia e piorar, como os exemplos das centrais de betão no texto acima.

Referido e bem que a floresta absorve muita da água devolvendo-a em forma de vapor de água à atmosfera bem como segurando as terras através do sistema radicular.

Estudos de impacto ambiental solicitados pelos próprios interessados na construção e respectivos louros parece-me sem dúvida racional ...

Daí resulta que numa situação de cheia existam infra-estruturas, que por acaso, estão onde a água se estabelece, ou num desabamento, estão onde a terra se acomoda.

A escumalha da (ou na) ilha da Madeira...

Notícia retirada do jornal "SOL" :



" Quando Alberto João Jardim, no próprio dia da tragédia, declarou que as notícias das enxurradas na Madeira deviam ser passadas com discrição 'lá para fora', estava dado o mote. Dois dias depois, esta estratégia de comunicação estava a ser concretizada, com 12 vídeos colocados nas redes sociais da internet, reproduzindo imagens de um Funchal onde nada parecia ter acontecido.

Turistas passeando pelas avenidas da Baixa que não foram atingidas, comerciantes a varrer(...) e o céu azul a brilhar sempre em fundo. Nem um sinal da desgraça abatida sobre a cidade.

Os filmes foram feitos ao estilo de vídeo amador na segunda-feira e colocados no dia seguinte no youtube. E são apresentados com o título 'A Reconstrução da Madeira' e 'Madeira after the storm' no twitter do Governo, alimentado, agora quase ao minuto, por um dos assessores de Alberto João."



"Internamente, a preocupação do Governo Regional em 'esconder' a tragédia que se abateu na ilha tem, no entanto, outras leituras. A oposição e os movimentos ambientalistas atribuem esta estratégia também à tentativa de evitar a discussão sobre os graves erros de planeamento urbanístico cometidos por toda a ilha e a 'construção selvagem' que se multiplicou ao longo das últimas décadas nas zonas urbanas.

Neste momento, e como comprovou o SOL, parece mesmo haver zonas interditas. Quarta-feira, o ambientalista madeirense Raimundo Quintal foi impedido de fotografar a zona junto do edifício de Minas Gerais (na esquina da Praça do Infante) e ameaçado pela PSP de ficar sem a máquina. Quintal recolhia imagens para avaliar a estabilidade de algunas edifícios construídos perto das ribeiras, depois da enxurrada do passado Sábado."





Afinal o tema banal da "asfixia democrática" até tem algum nexo.





"O debate sobre os erros urbanísticos está, de qualquer modo lançado na comunidade madeirense e também nacional.


A oposição local, num primeiro momento, preferiu evitar o aproveitamento político da situação, tendo-se multiplicado em declarações de pesar e solidariedade para com as vítimas da tragédia. Mas, assim que Jardim recusou declarar o estado de calamidade na região, as críticas não se fizeram esperar.


Os técnicos - geógrafos, ambientalistas e arquitectos - é que não esperaram e, desde o próprio dia da enxurrada, têm justificado parte da dimensão da tragédia com exemplos de má gestão urbanística.


Um desses exemplos, que o SOL ontem verificou, tem a ver com a Capela das Babosas, na freguesia do Monte - uma das mais afectadas no Funchal -, que foi totalmente destruída pelo aluvião, não restando nem um vestígio do que foram as suas paredes. Um pouco abaixo, duas vivendas desapareceram também totalmente.


Acontece que, segundo as informações recolhidas pelo SOL, mesmo atrás desta capela existia há vários anos um aterro - que a câmara do Funchal agora diz desconhecer, admitindo por isso, segundo a imprensa local, ser 'ilegal'. Este aterro servia para depósito de terras de entulho de obras feitas em toda a cidade.


À entrada, o dono do aterro tinha colocado um contentor, segundo as nossas fontes, que servia de 'bilheteira' aos camiões que ali despejavam o lixo. Este contentor foi também arrastado e terá sido responsável também pela destruição das casas logo abaixo. Pelo menos duas pessoas (uma mulher e uma criança) perderam a vida nesta enxurrada."





Os irresponsáveis Presidente da Madeira Alberto João Jardim e Presidente da Câmara Municipal do Funchal Miguel Albuquerque (à direita)








Os meus parabéns ao SOL pela qualidade, bravura e honestidade do jornalismo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Origem das Espécies de Charles Darwin

Hoje venho cá para vos falar dum livro que li. Esse livro chama-se "A Origem das Espécies de Charles Darwin" escrito por Janet Browne, professora de História da Ciência na Universidade de Harvard.
Não me vou prolongar sobre o livro, antes vou referir umas curiosidades retiradas do livro.
- Charles Darwin teve 10 filhos e desses perdeu 3. Para além da sua pujança sexual e do comentário muito "cor-de-rosa", interessa dizer que foram as mortes prematuras de seus filhos que ajudaram na descrença divina.
- Oriundo de uma família abastada, filho de pai médico, estudou medicina na Universidade de Edimburgo. Mas não gostava de cirurgias e o pai decepcionado colocou-o na Universidade de Cambridge para se tornar um clérigo. Porém o caminho de Darwin seria outro, e enveredou por História Natural, etc etc
- O livro refere que 3 nativos da Terra do Fogo foram levados para Londres e foram "domesticados", onde rapidamente adoptaram discursos e hábitos europeus. Darwin passou por essa terra e lá os encontrou. Darwin ficou perplexo ao ver as diferenças entre os 3 nativos anglicizados e as tribos indígenas. Janet Browne escreve a brilhante conclusão de Darwin: "O facto de homens praticamente selvagens poderem ser civilizados confirmava a sua convicção de que, independentemente da cor da pele, todos os seres humanos pertenciam a uma mesma espécie." Mais tarde os 3 nativos readoptaram o estado aborígene, e pode ler-se no livro "As seduções e ornamentos da civilização eram efémeros, meditaram os dois viajantes". ("os dois viajantes" tratam-se de Darwin e o comandante do navio Beagle, navio no qual Darwin percorreu o mundo durante 5 anos ininterruptos)
- Apesar de Darwin ter todo o mérito da teoria da evolução, e a própria teoria ter o nome de "Darwinismo", houve um senhor que se antecipou a Darwin. Quando já a sociedade se tinha habituado ao tema da evolução, depois de acesos debates, (devido a um livro lançado anonimamente "Vestiges of the Natural History of Creation", livro que apesar de tolo e sem fundamentos inteligentes e científicos, gerou muita controvérsia numa sociedade vitoriana e religiosa apelando à evolução em vez da teoria criacionista) Darwin estava pronto para editar e mostrar ao público todo o seu trabalho. Precisamente em 1858 o naturalista Alfred Russel Wallace mandou-lhe um ensaio escrito que "expunha a sua teoria pessoal sobre a evolução através da Selecção Natural". "Profundamente surpreendido com o facto de outra pessoa ter desenvolvido a mesma teoria, Darwin consultou os seus dois amigos mais próximos, Lyell e Hooker, em relação ao que deveria fazer a seguir. As convenções científicas e a honra cavalheiresca indicavam que devia retirar-se com uma vénia e deixar que Wallace colhesse os louros. Todavia, Lyell e Hooker acharam que Darwin não devia deixar de reclamar para si a criação da teoria. Sabiam da existência do extenso manuscrito em que o amigo andava a trabalhar. Havia espaço de manobra, insistiram eles. Por conseguinte, sugeriram que o ensaio de Wallace fosse enviado para publicação juntamente com um pequeno relato das descobertas do próprio Darwin. Haveria uma apresentação dupla e a prioridade seria partilhada. Darwin concordou, hesitante.
Esta apresentação dupla teve lugar, como sugerido, a 1 de Julho de 1858, numa reunião da Linnean Society of London, a principal sociedade científica de história natural da Grã-Bretanha. Lyell e Hooker tinham alguma influência junto da administração da sociedade. Conseguiram incluir a dupla apresentação no programa de uma reunião extraordinária marcada para o fim da estação, cuja data fora alterada devido à morte do botânico Robert Brown, antigo presidente da sociedade. (...) Nem Darwin nem Wallace estiveran presentes na reunião da Linnean Society. O décimo filho de Darwin, ainda bébé, estava gravemente doente com escarlatina e morreu a 28 Junho de 1858, apenas dois dias antes da apresentação. Pai extremoso, Darwin ficou de tal forma devastado pela dor que não conseguiu comparecer. Wallace estava a milhas de Londres, no Extremo Oriente. Na verdade, não estava a par daquilo. Uma vez que os serviços postais levavam três ou quatro meses a alcançar o outro lado do globo, não recebera ainda a carta que o informava de que o seu ensaio era igual ao trabalho de outro homem e estava a ser tornado público numa apresentação simultânea. Na altura em que o soube, admitiu ter ficado surpreendido. Cortês e moderado por natureza, Wallace escreveu imediatamente a Darwin e aos outros para dizer que as disposições quanto à publicação eram totalmente satisfatórias. Muito embora Darwin seja normalmente caracterizado pelos biógrafos como tendo sido generoso e cavalheiresco durante este incidente, a verdadeira generosidade deve sem dúvida ser atribuída a Wallace, o catalisador involuntário do alvoroço. Subsequentemente, os historiadores questionaram com frequência se Wallace teria sido lubibriado ou mesmo explorado pelas disposições tomadas por Lyell e Hooker e com as quais Darwin concordou. Não há maneira de camuflar o facto de Wallace ser oriundo do extremo oposto da escala social vitoriana. Autodidacta e sem rendimento próprio, ganhava a vida de forma instável recolhendo espécimes de história natural para vender a museus e coleccionadores. Fizera a primeira viagem neste sentido ao Brasil, com o amigo e naturalista Henry Walter Bates... ". Notável a humildade de Wallace, porém o mérito é igual para ambos, Darwin e Wallace, ambos chegaram à mesma teoria. Notável também como uma pessoa autodidacta obtém a mesma teoria que um licenciado e extremamente culto Charles Darwin, teoria essa que mudou o mundo e abriu a mentalidade de uma sociedade global e permitiu outros grandes passos na ciência, como a genética.
- "Órgãos vestigiais como o apêndice dos seres humanos eram explicados como resquícios anatómicos deixados pela história. Parecia-lhe pouco provável que um arquitecto divino concebesse deliberadamente características tão supérfluas e inúteis."
- "É bem sabido que Karl Marx ficou intrigado com a tese de Darwin e afirmou, em diversas ocasiões, que via nos seus elementos de base o sistema capitalista de competição e de laissez-faire." (isto numa referência à teoria de Darwin que se rege também pela ideia de que existe selecção natural no intuito de que prevalece a sobrevivência do mais apto e daí se desencadeia o aperfeiçoamento genético e de adaptação da espécie ao meio) "A certo momento pensou-se que Marx queria dedicar "Das Kapital" a Darwin, mas isto teve origem num equívoco. É certo que Marx mencionava "A Origem das Espécies" no seu texto e enviou um exemplar de apresentação da terceira edição de "Das Kapital" a Darwin, em manifestação de respeito. Este exemplar permanece na colecção de livros de Darwin e contém uma dedicatória de Marx. "
- Darwin foi sepultado na Abadia de Westminster, "o local mais comum para funerais de estado, casamentos reais e celebrações nacionais. A escolha deste local para o autor de "A Origem das Espécies" foi em muitos aspectos irónica, pois o seu país estava bem ciente de que a sua fama se devia a ter minado a autoridade da igreja. Todavia, por altura da sua morte, Darwin era festejado como uma importante celebridade científica, um homem da ciência eminente, alguém que olhara mais longe e vira mais que os outros, com um nível intelectual tão elevado como Newton e sem dúvida merecedor de honras no palco comemorativo mais importante do país. Professores universitários, membros da igreja, políticos, sumidades da medicina, aristocratas e membros do público encheram a abadia para o acompanhar à sepultura. "Feliz é o homem que encontra a sabedoria", cantou o coro. Actualmente é praticamente impossível adivinhar se Darwin terá morrido feliz, mas não há dúvida de que foi venerado pela sua obra e pelo seu carácter pessoal, que constituíram o modelo exacto do que deveria ser um homem de ciência."
- o legado da Teoria de Darwin não foi em tudo coincidente com a magia da sua descoberta. No início do século 20 começou a surgir a eugenia, isto é, uma vontade de manter ou melhorar um certo património genético. "Decadência urbana, miséria industrial e um desejo de medidas intervencionistas na área da saúde pública, como a vacinação e a regulamentação da prostituição, enchiam os jornais. Na Grã-Bretanha, o receio das classes altas de serem subjugadas por uma classe inferior, depravada e criminosa (a "ralé") tornou-se generalizado. A Eugenics Education Society, que em breve se tornaria a Eugenics Society, foi criada na Grã-Bretanha em 1907 e rapidamente se encheu de profissionais liberais diligentes, desejosos de aperfeiçoar e dominar as massas. De 1911 a 1925, o seu presidente foi Leonard Darwin, um dos filhos de Charles Darwin. Tudo isto teve uma consequência importante na Grã-Bretanha, a aprovação da Lei da Deficiência Mental, em 1913, com o fim de identificar indivíduos com deficiências mentais e de os confinar a uma instituição ou asilo onde seriam impedidos de procriar." Nunca tinha visto desta maneira, mas é quase isso que é o Júlio de Matos, embora não sejam propriamente maus para com os doentes, se bem que nunca o tenha visitado, não posso alongar-me. Eu sei que este assunto é delicado, e não vou dar opinião se os indivíduos deveriam procriar, no entanto acho que podiam também ter direito à vida, à alegria da vida, como mostra que deviam no filme "Voando sobre um ninho de cucos". Mas... lá está. Que percebo eu disto para falar? Cada caso é um caso, cada paciente o seu feitio. E será que o filme retrata a realidade? É um assunto delicado, repito.
- "Por volta de 1900, as doutrinas eugénicas eram invariavelmente associadas a outras extensões ideológicas do darwinismo. Diversos biólogos e eugenistas que trabalhavam com o sistema darwiniano apoiaram a pretensão da Alemanha de ser a nação dominante da Europa, em particular Haeckel, que propôs uma filosofia de vida materialista chamada "monismo", na qual espírito e matéria eram aspectos diferentes da mesma substância subjacente. A sua Liga Monista promoveu a supremacia alemã na década que antecedeu a Primeira Guerra Mundial e contribuiu indirectamente para a ascensão posterior do fascismo. Apoiados nestes aspectos biologizados da sociedade e nestas visões de ascendência nacional, os dirigentes alemães foram ainda mais longe com a lei eugénica para a Prevenção da Progénie Afectada por Doenças Hereditárias (1933). Cerca de 300 mil pessoas foram esterilizadas ao abrigo desta lei até 1939, ano em que foi substituída pelo programa de "eutanásia" do período de guerra, para o extermínio dos judeus. A ciência da raça, por vezes conhecida como ciência racial, reflectia os preconceitos mais radicais da época, e também ela se baseava no darwinismo. Porém, convém esclarecer que o racismo e o genocídio foram anteriores a Darwin e não se confinaram ao Ocidente."


- "A nova geração de darwinianos abordou também a questão da ética humana. A maioria estava convencida de que a ciência confirmava a ausência de qualquer plano subjacente ou desígnio divino na construção do universo. G. G. Simpson, um dos arquitectos da síntese moderna, chamou a atenção para o facto de ser impossível considerar a espécie humana como o objectivo predeterminado de mudanças aleatórias na frequência dos genes. Simpson afirmou, num tom jocoso, que a humanidade era o resultado de um processo que nunca o tivera em mente." Tal como na lotaria, as mutações e a genética brincam com as probabilidades. Ou seja, cada um de nós, cada ser humano é o resultado das probabilidades de todas as origens do australopitecus terem convergido para o aparecimento do próprio, é o resultado de ainda mais as probabilidades de o australopitecus ter evoluído por acaso, por mutações e por essas mutações genéticas originarem seres novos mais bem adaptados ao meio ambiente, mais capazes para sobreviver, que por sua vez evoluíram até ao Homo Sapiens Sapiens. Mas podiam não ter evoluído!!! Por sua vez cada espermatozóide que chega ao óvulo é um entre milhões. Isto faz pensar. Cada um de nós está na terra por um mero, mas muito mero acaso. No início do universo, a seguir ao Big Bang, imagina-te a observares o universo a expandir, e se alguém te perguntasse: "Que hipóteses achas que tens de nascer?" a tua resposta seria: "Tenho uma probabilidade de 0,0000000000001%". É obra.
- "Até o papa João Paulo II dirigiu uma carta aos católicos, em 1996, onde reconhecia que o resultado do trabalho científico realizado de forma independente por todo o mundo "leva a reconhecer na teoria da evolução mais que uma mera hipótese"."
E é isto. Deu-me muito gozo ler este livro, como também fazer-lhe a publicidade. Todos estes textos são retirados do mesmo.E neste "Fora da Sociedade" espero que se sintam bem dentro da sociedade. Até breve.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Mapa Etno-Musical de Portugal by Júlio Pereira

Na véspera do concerto de Júlio Pereira nas Sextas Culturais, o músico apresenta em Águeda o Mapa Etno-musical de Portugal. A conversa com o público terá lugar na Casa do Parque da Alta Vila, na quinta-feira 11 de Fevereiro, pelas 21h30, com entrada livre.

Júlio Pereira apresenta em Águeda o Mapa Etno-musical de Portugal
Casa do Parque da Alta Vila
Quinta 11 Fevereiro, 21h30
entrada livre

Este mapa procura contribuir para a divulgação da música tradicional portuguesa e dos respectivos instrumentos. Não pretende ser uma obra académica ou a palavra final e única, mesmo que sintética, sobre esta matéria, mas, não o sendo, segue com rigor a palavra de quem lhe consagrou todo o seu trabalho.


O critério de divisão geográfica por já desusadas províncias, ainda que discutível (como tudo…), é porventura o mais adequado e eficaz, atendendo às particularidades geográficas e sociais de cada região e à permanência dos seus nomes nanossa memória.
Adoptou-se, porém, genericamente, a distinção de Ernesto Veiga de Oliveira, figura maior e indisfarçável deste trabalho, entre o litoral do Minho ao Tejo, depois prolongado na costa algarvia - festivo, social e folgazão -, e o interior dos planaltos transmontano e beirão, que se estende, embora com particularidades, ao Alentejo - austero, grave e cerimonial.
De região em região, através de um mapa de Portugal povoado de pequenas imagens, a que se associam gravações áudio e textos explicativos, é possível calcorrear o país, de forma interactiva, através das suas tradições e instrumentos musicais. O Mapa Etno-musical de Portugal é um projecto alojado no centro virtual do Instituto Camões e coordenado por Júlio Pereira, autor da primeira versão do mapa em 1988, então em papel, como encarte do marcante disco “Miradouro”.

http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/mapa-etno-musical.html

http://www.juliopereira.pt/


Na base do mapa estão os levantamentos feitos pelo etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira, que foi director do Museu de Etnologia e que «dedicou cerca de 40 anos da sua vida ao estudo das raízes tradicionais» portuguesas, conjuntamente com Benjamim Pereira, e pelo muito conhecido musicólogo Michel Giacometti.
Há 20 anos, quando fez uma primeira versão do mapa, Júlio Pereira baseou-se apenas em Veiga de Oliveira, que tem uma obra por ele considerada «mais aprofundada». Mas agora neste projecto, João Luís Oliva não só recorre a Giacometti como a José Alberto Sardinha, Domingos Morais, Artur Santos e outros – «todas as pessoas que estudaram o nosso país a este nível foram evidentemente consultadas», garante.
No entanto, o objectivo do mapa «não é de todo fazer uma coisa altamente aprofundada, para especialistas, sobre etno-musicologia», sublinha Júlio Pereira. «O objectivo é exactamente o contrário». Pretende «satisfazer a curiosidade» das pessoas, apostando no conceito ‘sabia que…’. «Com rigor, mas de uma maneira acessível» a qualquer um, diz.
Em última análise, Júlio Pereira ambiciona que o mapa, ou uma versão dele e da informação que carreia, chegue mesmo às crianças das escolas portuguesas. «Acho muito mais interessante saber quais os instrumentos e o som deles, os sons de um país ou de uma cultura, do que saber de fardas ou de outro tipo de coisas», sustenta.
O autor do emblemático disco Cavaquinho (1981) defende as virtudes didácticas de uma tal abordagem, exemplificando: Portugal tem cinco tipos de viola, todas com o mesmo número de cordas, tamanho mais ou menos idêntico e som parecido. O que é que difere? O timbre. E esse, para além das especificidades da técnica do construtor, reflecte as madeiras com que foi construído o instrumento, que variam de região para região. Uma criança pode ficar assim a saber quais as árvores do Minho, onde se fabrica a viola braguesa, ou do Alentejo, onde existe a viola campaniça. «Isto é igual para tudo, para flautas, para instrumentos de percussão, para o que quer que seja».
Se o mapa retrata o adquirido histórico da música tradicional portuguesa, nem por isso representa um qualquer tipo de exumação arqueológica musical. Porque, como sublinha Júlio Pereira, a situação da música e dos instrumentos tradicionais não é aquela que os media deixam transparecer. Com uma música «cada vez mais industrializada, mais comercializada», a rádio «só passa na sua grande maioria um determinado tipo de música anglo-saxónica», considera Júlio Pereira, que pergunta: «E então o resto da música?».
Todavia, mesmo nos meios académicos da etnologia, há algumas décadas, a música tradicional portuguesa era considerada moribunda. Domingos Morais, professor da Escola Superior de Teatro e Cinema e que colaborou com Ernesto Veiga de Oliveira na 2ª edição do livro deste, dedicado aos Instrumentos Musicais Populares Portugueses, escreve que Jorge Dias falava já em 1970 da «degradação da música tradicional portuguesa a partir dos anos 20, como um processo irreversível a curto prazo, que justificava a adopção de medidas eficazes para a sua salvaguarda». O próprio Júlio Pereira, segundo refere, se deixou contaminar, quando julgou, por exemplo, que o bandolim tinha morrido (v. artigo em baixo).
De facto, contra todas as expectativas, a música tradicional resistiu e está em expansão. «Estas últimas décadas, a seguir ao 25 de Abril, foram tão fortes… Só que não são visíveis», reconhece. Mas as culturas, acrescenta, «não morreram ao longo destes anos todos. Eu continuo a viver num determinado país, numa determinada zona do mundo que, ainda assim, produz objectos através das características da sua própria região».

As origens do mapa

Na origem do mapa que vai estar em linha no Centro Virtual Camões está a produção em 1988 do disco Miradouro, de Júlio Pereira.
«Nessa altura, lembrei-me de fazer um disco onde cada um dos temas fosse baseado nos elementos etno-musicais de cada uma das nossas regiões». Rapidamente lhe veio a ideia de ilustrar o projecto com um mapa, mostrando os instrumentos de cada uma das regiões.
Juntamente com o então director da Livraria Opinião, Hipólito Clemente, o designer gráfico Henrique Cayatte e o produtor musical Alberto Lopes, passou aos factos. E assim surgiu um mapa em papel, de 100X70cm, que acompanhou a edição do disco, ainda em vinil, com uma capa com recortes que permitiam vê-lo.
Há dois/três anos, quando colocou o mapa na sua página na internet, Júlio Pereira falou com Henrique Cayatte, que o desafiou a refazer o mapa, tanto mais que o original era em papel e, obviamente, não tinha som.
O texto original apresentava entretanto algumas lacunas, que o recurso a João Luís Oliva, uma pessoa «rigorosa» e «ligada à História toda a vida», permitiu colmatar.

fonte: pimentanegra

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma introdução a: Geologia e Transportes

<< A concessionária da CREL apurou que a estrutura da autoestrada não sofreu danos devido ao deslizamento de terras que ocorreu a 22 de Janeiro entre o nó de Belas, em Sintra, e a A16.

No entanto, embora ainda não haja uma data definida para a abertura da circulação na via, a Brisa já apurou que "cerca de 700 metros de via vão ter que ser asfaltados" após a retirada das terras do tabuleiro.

Segundo fonte do gabinete de relações públicas da concessionária da autoestrada, a chuva tem atrasado os trabalhos de remoção das terras que deslizaram para a CREL uma vez que, por razões de segurança, os aterros que têm estado a receber estas terras "não podem ser utilizados quando está a chover".

"Os camiões estão parados desde as 04:00 de hoje. Quando parar de chover começam a transportar as terras para os aterros da Salema e da Vialonga", adiantou hoje a Brisa.

No local são hoje visíveis as toneladas de terras e lamas ainda por remover.

Encontram-se cerca de 100 homens a trabalhar, 10 escavadoras, uma pá carregadora, dois tractores de escavação e uma máquina hidráulica que está a escoar as águas do topo do aterro de onde deslizaram as terras.

As máquinas encontram-se a retirar terras da encosta, que mais tarde serão transportadas para aterros a uma média de 1000 carregamentos de camiões por dia.

Os 60 camiões que diariamente têm estado a retirar as terras do local, no total já retiraram cerca de 200 mil metros cúbicos, estão neste momento parados, até que hajam condições climatéricas para o retomar dos trabalhos.

Segundo fonte da Brisa é difícil calcular a quantidade de terras que ainda têm que ser removidas.

A Lusa questionou a Brisa sobre os prejuízos que a concessionária teve desde o encerramento de parte da CREL, mas a concessionária escusou-se a adiantar os valores.

A Brisa disse anteriormente que vai reclamar junto dos proprietários do terreno de onde deslizaram as terras que provocaram o encerramento de parte da estrada.

Logo após o incidente, o presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo, negou quaisquer responsabilidades da autarquia na deposição de terras naquele terreno e afirmou que o Grupo Espírito Santo era, através do fundo imobiliário Edifundo, o proprietário.

No entanto, o Grupo Espírito Santo informou depois que a construtora Obriverca é a única proprietária do espaço, através de um fundo imobiliário.

Quanto aos automobilistas que ficam obrigados a seguir por estradas nacionais alternativas, a Brisa recusa qualquer tipo de indemnização ou compensação. >>



Retirado de: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1491451&seccao=Sul


No fim do texto parecem crianças a fugir ao raspanete da professora, todos dizem que a culpa não foi deles, ahah cómico...

Lendo este texto fica a ideia de que a irresponsabilidade do fecho da estrada, para além de ter posto em perigo os automobilistas, se deve, não à Brisa, mas ao proprietário do terreno.

Bom na minha opinião, ainda que modesta, deve-se aos dois. Por um lado a Brisa devia ter a prevenção como preocupação primária em vez da remediação, por outro lado o dono do terreno é negligente pois a meu ver tem a obrigação de também ter um papel activo de cooperação em matéria de segurança e prevenção rodoviária. (de referir que não sei como funciona a lei, e quem neste caso tem deveres, e que não os cumpriu, por isso referi ser a minha opinião logo ao início).

Noutro artigo o DN escreve isto:

<< Há 11 anos que a Câmara Municipal da Amadora alertou para o perigo do deslizamento de terras na CREL (Circular Regional Exterior de Lisboa), chegando mesmo a comunicar os factos ao Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP). Mais de uma década depois, a autarquia acusa os proprietários dos terrenos de inércia e exige o apuramento de responsabilidades pela derrocada que se verificou a 22 de Janeiro.

Fonte do gabinete do vereador dos Transportes e das Obras Municipais da Câmara da Amadora, Gabriel Oliveira, garantiu ao DN que "em 1999 a Câmara Municipal da Amadora notificou os utilizadores dos terrenos, para retirarem as terras colocadas sem autorização no local e que originaram alterações à topografia da zona. Perante a inércia dos utilizadores, comunicou-se tal facto ao DIAP, em 1999". >>



É triste, pois quem se acaba por tramar são os utentes da estrada, que não têm um sistema de transportes públicos eficaz, logo não têm outra opção senão deslocarem-se pelas ditas "estradas nacionais", para não falar que sai mais caro à Brisa andar a "remediar" do que "prevenir".

E é triste! que tenham passado 10 anos e o dono do terreno não tenha sofrido mais do que um simples "aviso", obviamente que nunca tendo apanhado um valente susto, sendo desobediente, também nunca "mexeu uma palha". A negligência neste caso é do dono do terreno, é da lei, e da Brisa e do Município.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cinema Comunitário

Banksy Stencils

Nascido em Bristol, Banksy iniciou aos 14 anos, foi expulso da escola e preso por pequenos delitos. Sua identidade é incerta, não costuma dar entrevistas e fez da contravenção uma constante em seu trabalho, sempre provocativo. Os pais dele não sabem da fama do filho: "Eles pensam que sou um decorador e pintor". Recentemente, ele trocou 500 CDs da cantora Paris Hilton por cópias adulteradas em lojas de Londres, e colocou no parque de diversões Disney uma estátua-réplica de um prisioneiro de Guantánamo.
Suas obras são carregadas de conteúdo social expondo claramente uma total aversão aos conceitos de autoridade e poder. Em telas e murais faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando em seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade. Apesar de não fazer caricaturas ou obras humorísticas, não raro, a primeira reação de um observador frente a uma de suas obras será o riso. Espontâneo, involuntário e sincero, assim como suas obras.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010